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CRÓNICA DE DC - ANALISTA SOCIAL

A Violência do Poder

Mais alguns episódios de violência caracterizam a relação entre os homens, ou entre estes e o meio, na última semana. Cerca de uma semana depois de abordarmos o tema, a verdade é que a forma como esses episódios têm preenchido as grandes manchetes internacionais, provoca que os nossos pensamentos sobre estabilidade social, desenvolvimento e paz em angola, sejam traídos pela necessidade de exteriorizar algumas preocupações, teimosamente presentes nas nossas abordagens diárias sobre a vida e o futuro, à mesa do jantar, ou ao no final da tarde na ilha de luanda, por entre o calor do por do sol e o olhar de esguelha, teimoso, nos cada vez mais pequenos pedaços de pano que cobrem o corpo dos habitués das nossas praias.

Enquanto o país da democracia e das oportunidades se vê a braços com uma complicada convulsão social de origem racial, porque me parece que os policiais preferem ver armas verdadeiras com brancos do que pistolas de brinquedo com negros, ainda que adolescentes, dois dos nossos principais países de referência – o Portugal e Brasil, vêm-se mergulhados em verdadeiras crises de violência moral, fruto do fenómeno alta corrupção, que cada vez mais se torna um problema de escala mundial e que apenas não poisa na nossa terra, porque, do ponto de vista histórico e científico, ele foi transformado em acumulação moderna de capital, porque a primitiva, essa, já passou a história nos tempos da revolução industrial. Enquanto a violência racial no primeiro mostra que o País que conseguiu eleger o seu primeiro presidente negro não foi capaz, na verdade, de sarar as profundas feridas abertas por alguns séculos de escravatura, nos outros, a violência moral, independentemente das razões políticas que giram a volta da verdade ou não do que vamos ouvindo, prova, mais do que nunca, que governação e honestidade, independentemente dos pontos cardeais, são facetas completamente antagónicas da estrutura mental do ser humano, incapazes de uma convivência saudável.

Se a nível das relações sociais entre governos e cidadãos a situação se torna cada vez mais complicada, a natureza, também ela começa a cansar-se de ser a receptora principal dos dejetos gerados pela industrialização e pelo desenvolvimento. Sufocada e revoltada faz a terra cuspir fogo como nunca, engole-nos como formigas em crateras imensas resultantes do tremor imposto pelo roçar malicioso das placas tectónicas, altera e brinca com as estações do ano, joga em cima de nós ondas gigantescas, terrivelmente destruidoras como se pretendesse lavar de vez todos os nossos pecados, aquece os polos e derrete o gelo, subindo perigosamente o nível de água nos oceanos. Em silêncio e conformados ouvimos que as grandes potências brigam para cederem ao desenvolvimento sustentável, agarrados apenas ao presente, fazendo o futuro das novas gerações estarem dependentes de compromissos políticos e interesses financeiros, factores que todos sabemos resumirem-se em última instância ao ser-se mais rico ou mais pobre, ao ter-se mais ou menos poder, a capacidade de se impor a lei, ainda que bastante subjetiva, do mais forte.

E começamos a aprender desde bastante cedo. Aos seis anos vamos para a escola e começamos a aprender a somar e subtrair para que mais tarde possamos aprender os altamente complexos modelos económico-matemáticos que bem lá no fundo se resumem à simples fórmula de que capital mais ou menos trabalho é igual a lucro, aos 14 começamos a aprender as dificuldades dos relacionamentos interpessoais quando, entre a sala de aula e o por do sol trocamos o primeiro beijo, aos 18 vestimos a farda e aprendemos na guerra a filosofia do poder do mais forte, aos 25 somos jogados para o interior da engrenagem e alguns anos depois, exaustos e perdidos, sem fé e sem rumo, inúmeras vezes sós e vazios, transformamo-nos em verdadeiros autómatos sociais, escravos do presente e da busca da sobrevivência material, sem capacidade de reagir e em silêncio, aceitamos a nossa própria resignação, a resignação ao silêncio, a resignação, à incapacidade de reagirmos ao socialmente injusto. E quando a nossa capacidade de sofrimento atinge o limite, quando a nossa intolerância deixa ela própria de tolerar o nosso silêncio, procuramos alternativas muitas vezes em padrões de comportamento sustentados por organizações que misturam política, religião e violência levada ao extremo. A verdade é que não me parece haver regras clássicas para a reviravolta política ou revoluções sociais, para além daquelas que a pseudo-democracia ocidental nos aponta. Ou o que a revolução marxista nos ensinou, também ela própria sucumbida perante a falta gritante de moral social dos seus progenitores. E assim mais a esquerda ou mais à direita, mais verde ou mais socializante, a verdade é que o homem cultiva cada vez mais a semente da sua própria destruição, regando-a diariamente com o egoísmo da riqueza, alimentando-a com a sede de poder, fortalecendo-a com a total falta de respeito para com o futuro.

A violência das manifestações que na última semana se têm reproduzido um pouco por inúmeras grandes cidades por este mundo fora, mostra, em meu entender, a forma como o cidadão comum pretende romper a barreira do silêncio, enquanto os estados, com os recursos ao seu dispor, pretendem apenas manter e eternizar o status-quo, que naturalmente serve os interesses das classes políticas dominantes e dos grandes interesses financeiros internacionais, verdadeiros aliados de uma só mão.

Mas a razão do silêncio é forte, é justa e encerra nela a verdadeira dimensão de um mundo melhor.

DC

27/11/014

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