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CRONICA DE DC PARA AMANHA É OUTRO DIA 9-1-15

EU SOU CHARLIE


O mundo acaba de viver mais um dos inúmeros e imensamente tristes episódios que têm vindo a caracterizar ao longo dos tempos a difícil relação entre os homens ou entre estes e a liberdade, seja esta vista apenas como liberdade de exprimir opiniões ou de caricaturar situações do dia a dia, seja num sentido mais profundo, como direito a lutar por melhores condições de vida, através da imposição da opinião das grandes maiorias. Vem isto a prepósito de que ontem, quando três terroristas muçulmanos entravam fortemente armados nas instalações do Semanário Francês CHERLIE HEBDO e provocavam um autêntico massacre disparando indiscriminadamente e matando cerca de 12 pessoas, entre tantos outros feridos, por ironia ou não, a prepósito do 4 de Janeiro de 1961 e dos massacres da baixa do cassanje, em Angola, eu lia que exactamente nesse dia, a Força Aérea Portuguesa, distribuía como presentes de ano novo e revanche pelo descontentamento popular na área, bombas de napalm, provocando a morte de mais de 20.000 angolanos!
Dois episódios completamente diferentes no espaço e no tempo, pensarão a maioria das pessoas, já que os separam cerca de 54 anos. No primeiro, a 4 de Janeiro de 1961, o Estado português usava o direito de potência colonial para reprimir a insatisfação popular movida pela existência de trabalho escravo. Os culpados pela ordem de bombardear com Napalm homens, mulheres e crianças indefesas nunca foram procurados, julgados ou condenados e foram necessários cerca de 14 anos de intensa luta armada movida pelos angolanos, para que a história fosse recolocada no seu devido lugar e angola se tornasse independente. No segundo, em pleno coração da europa, na cidade dos poetas da luz e amor, os terroristas usavam o direito divino de vingarem Maomé contra as caricaturas publicadas pelo jornal, muito delas em que expunham o profeta no limite da linha que separa o aceitável do insultuoso. Em meu entender muitos pontos de convergência!
Primeiro porque terrorismo é esbanjamento de terror contra inocentes, seja ele praticado a coberto de interesses estratégicos de Estados, seja ele praticado por organizações de ultra esquerda, ultra direita ou ultra religiosas, a coberto de ideais fascistas, racistas ou religiosos. Segundo porque cinquenta e quatro anos antes e cinquenta e quatro anos depois da baixa de cassanje o mundo continua a viver com medo do terror que é esbanjado um pouco por todo o lado, nos 5 continentes. Que o digam as imensas vítimas de manifestações por descontentamento popular que se realizam um pouco por esse mundo fora, desde o berço do anti-terrorismo americano, até ao berço da democracia grega. Que o digam as vítimas das guerras no iraque e na síria, as vítimas dos estados totalitários da coreia do norte, entre outros...Que o digam as vítimas de organizações ultra racistas nos Estados Unidos da América ou de organizações fascistas, nazistas ou pró hitlerianas na Alemanha. Que o digam os milhões de vítimas da pobreza extrema em áfrica e na américa latina.
A grande diferença entre uns e outros parece estar na forma como o mundo reage às diferentes formas de terrorismo…umas vezes finge que não vê porque estão em jogo interesses de aliados, outras vezes reage de pronto com sanções económicas e, quando o inimigo é fraco com intervenções militares e, na atualidade, quando a causa é o Estado Islâmico ou grupo de muçulmanos ultra radicais, a ordem é a perseguição até a morte…Até se esgotarem todas as possibilidades. Não porque está errado, mas porque me parece que a perseguição ao estado islâmico, na maior parte das vezes serve para escamotear outras intensões, outros interesses, não muito transparentes das grandes potências.
A verdade é que o tempo, a razão da história tudo compõe. Assim foi com a independência de angola se nos referirmos a cassanje, assim foi com  Hitler e com Salazar, assim será na actualidade com os promotores da violência gratuita contra a liberdade e contra a democracia, quer estejam mascarados de estados arrogantes e expansionistas, quer de líderes de organizações religiosas ultra radicais.


Carregue na imagem para ler Online esta edição de C. H.. 
E como sou Charlie aqui fica o meu cartoom do dia…os descendentes de cassanje continuam hoje em dia, 54 anos depois do massacre e 40 anos depois da independência, a manifestar o seu descontentamento contra as miseráveis condições de vida que têm. Os descendentes dos opressores de 1961 estão hoje de regresso, não com bombas de napalm, mas com a capacidade de convencerem muitos, de que não sendo nós capazes de nos organizarmos, são eles a alternativa, assaltando e afastando do caminho o direito dos angolanos de, com a sua livre iniciativa, desenvolverem a sua própria riqueza e o seu próprio bem estar…
DC

08/01/2015

José Gonçalves, sugere:

José Gonçalves, cronista do programa Amanha é Outro Dia, sugere:


Amig@s

Se tiverem tempo passem no meu blog para ver alguns cartoons de africanos sobre o ataque ao Charlie Hebdo. 

www.jonuel34.blogspot.com


CRÓNICA DE DC PARA AMANHA É OUTRO DIA 2-1-15

ANO NOVO, VIDA NOVA

Como uma flexa 2014 passou por todos nós a uma velocidade estonteante, deixando no ar um rasto de saudade e de melancolia no desdobrar de promessas de melhorias, no questionamento do que falhou ou faltou para atingirmos os objectivos que preconizamos, no sorriso triunfante de quem conseguiu cumprir metas pessoais. Na mescla de sentimentos muito pessoais que geralmente nos acompanha, desejamos sempre que o ano que se segue seja melhor, que haja mais amor, mais paz no mundo, mais disponibilidade para que os que tomam as grandes decisões potencializem o seu lado mais humano e mais sentimental e se preocupem um pouco, apenas um pouco com os graves problemas sociais e económicos que a humanidade vive. Talvez isso seja apenas um bom sonho, uma utopia inatingível porque todos sabemos que as grandes motivações, acima dos interesses do bem comum, são na realidade os grandes interesses geo estratégicos, o domínio do mundo e o seu policiamento de forma a castigarmos, com falsos pretextos os que se portam menos bem e a apertarmos a mão aos que aceitam viver sobre o nosso teto.
Com certeza que o ano que ontem apenas começou tem muito para nos oferecer….de bom e de mau, do melhor e do pior. Para nós angolanos, apôs alguns anos dourados em que exibimos ao mundo um crescimento anual de dois dígitos o horizonte para estar sombrio. Não tendo conseguido libertar-se da dependência do ouro negro, angola enfrenta em 2015 talvez o maior desafio da sua história como país independente, claro está, depois da paz conseguida e do fim da guerra. Mas se para se conseguir a paz apenas foi necessário pacificar as mentes e aprender a viver na diferença, o desafio da pobreza eminente e das dificuldades económicas, o desafio de manter a crescer sem os petro dólares que tanto nos encantaram nos anos anteriores, requer uma ginástica e uma criatividade para os quais o nosso povo, desde o vértice da pirâmide até a sua base parece não estar, pelo menos do ponto de vista histórico, preparado. Um pouco como a história da cigarra e da formiga, vivemos os últimos 7 ou 8 anos, cantando e esbanjando sem nunca nos preocuparmos com as incertezas que acompanham o futuro. Cantando o nosso crescimento de dois dígitos, esbanjando em megalomanias, promovendo uma burguesia nacional que pouco se preocupou em criar emprego internamente, tapando os olhos como quem não vê à imensa fuga de capitais que se foi verificando ao longo desses anos, esquecemo-nos de poupar o suficiente para os tempos difíceis e de promover as alternativas necessárias à nossa gritante dependência do petróleo. Daí o questionamento de sermos ou não capazes de viver com bastante menos e de mesmo assim continuarmos a dirigir a nossa atenção para o social. Porque o termos muito menos significa que temos que arrumar a casa, gastar onde for necessário, combater a incompetência e a falta de seriedade, agredir com todas as nossas forças o roubo do dinheiro público, investir menos mas de forma mais selectiva, abandonar o vício dos sacos de diferentes cores, terminar com todos os vícios de governação que formos adquirindo, pelo negativo, ao longo desses anos.
A baixa do preço do petróleo tem na verdade esse lado positivo. Como alguém que de repente adoece, começamos a sentir que afinal também somos simples mortais. Que temos que respeitar determinadas regras. Que temos que cuidar da nossa saúde e de pensar no futuro da nossa mente e do nosso corpo. Se quisermos, claro está, continuar a ser a esperança de todos, aqueles por quem se espera. Se assim não fôr e por muito que isso nos revolte, por não termos alternativas, de sã consciência se jogue a toalha ao tapete e se abra as portas aos escassos que talvez, com o tempo, se tornem melhores do que nós próprios.
Porque a flexa de 2015 já foi disparada e passará por nós sem darmos por isso e o próximo ano está a nossa espera já ali, ao virar da esquina. Por isso não podemos continuar a adiar, a perder tempo com o nosso próprio futuro. Que seja este, em definitivo, o ano em que consigamos mostrar que somos capazes de cumprir todas as promessas que o futuro foi esquecendo, de pensarmos no colectivo e não só em nós próprios ou na nossa família. Porque todos somos iguais nos direitos e nos deveres, na abundância e na escassez, na alegria e na tristeza, na vida e na morte.

DC

2/1/2015

CRÓNICA DE LUÍSA ROGÉRIO | AMANHÃ É OUTRO DIA - 31-12-14

PROMESSAS RENOVADAS!
LUÍSA ROGÉRIO
E já estamos a 31 de Dezembro. Para trás ficam 365 dias que transmitiram a sensação de terem passado demasiado rápido. Brevemente, com o ano de 2014 terão ficado promessas, incumprimentos, metas não transpostas e desejos protelados. Não interessa se o fracasso se deve a falta de capacidade de realização ou ao factor conjuntural, o que vai dar ao mesmo ponto. No plano pessoal, o ano prestes a envelhecer, será mais um a reforçar a impressão de que vivo no país do eterno futuro adiado.
Frustrações e incumprimentos à parte, o prenúncio de um novo ano representa sempre o reacender de qualquer coisa. É hora de traçar novos planos. Fazer as inevitáveis reflexões que transformam algo tão corriqueiro para a humanidade, como o fim e início de um novo ano, em época realmente especial.
O que falhou? Como implementar aquele projecto? O futuro é a incógnita que a Deus continua a pertencer. Mas os meus desejos para o ano vindouro ainda me pertencem. Por isso, decidi fazer mais do que equacionar as minhas ideias e anseios numa folha de papel. Exactamente como li naquele livro de auto-ajuda.
A antevisão de um ano com dificuldades decorrentes da queda dos preços de petróleo no mercado internacional justifica o gesto. Nem precisa ser economista para entender que a subida dos preços de combustível e o fim da subvenção do Estado a alguns dos derivados do extinguível ouro significa alguma coisa menos simpática. As consequências da dependência do petróleo aproximam-se a passo de gigante. Prevê-se inflação. Eventualmente, recessão e crise económico-social.
Mas não vale a pena sofrer por antecipação. Bastante optimista, quanto não estou "crisáustica", apenas apetece-me augurar um bom ano. Como dizia, tomei uma atitude. Vim celebrar a passagem do ano no ponto mais a sul do continente. Engana-se quem pensa que vou a alguma festa glamorosa na Cidade do Cabo. Também não tenho intenções de ver o belíssimo espectáculo de fogo-de-artifício que dizem ser o maior de África. O reencontro com amigos e familiares fica para melhor ocasião.
A deslocação e tudo o resto nem é assim tão cara, apesar da época alta para o turismo em Cape Town. Milhares de pessoas de várias partes do mundo "invadem" a cidade. Mas turismo é conversa para outra crónica. Estou apressada. Vou ao Cabo da Boa Esperança. Ali onde, naquele dia há muito tempo, o português Bartolomeu Dias venceu as tormentas. Prometo orar com toda a fé do mundo. Vou rezar, testemunhada pela minha mochila, pela renovação da esperança. Não cabem no pacote pedidos para descoberta de novos campos de petróleo. Ou de kimberlitos que geram anualmente lucros de sei lá quantos milhões.
Em 2015 desejo ser cidadã de um país onde se respeitam os valores proclamados na sua Constituição. Almejo um país com argumentos melhores do que barras de ferro para dialogar. No Cabo da Boa Esperança, bem perto do local onde os oceanos Índico e Atlântico se fundem, confundindo o visitante, vou acender uma vela para que todas as forças do universo conspirem a nosso favor.
Com todos os problemas inerentes aos conflitos da raça humana, mulheres e homens da nossa Pátria não podem perder a capacidade de sonhar. É imperioso ter motivos para acreditar que Angola pode ser um país melhor para os seus filhos. Sinto a chamada dos ventos do sul. Em menos de 24 horas, este dia derradeiro de 2014 dará lugar ao novo ano. Para já, marcamos encontro para 2015, na expectativa de que dentro de um ano haja um balanço positivo. Preparados para vencer o cabo das tormentas? 

CRÓNICA DE LUÍSA ROGÉRIO, JORNALISTA, PARA AMANHA É OUTRO DIA 31-12-14 




CRÓNICA DE DC, PARA AMANHÃ É OUTRO DIA - 26-12-14

O NATAL DOS NOSSOS DESENCONTROS

Terminou o Natal a data de todos os encontros…o da família, o do amor, o da paz espiritual, o de esquecermos os nossos inimigos e de extravasarmos toda a solidariedade social escondida durante o ano. O de sermos todos bonzinhos porque nos desdobramos em actos de simpatia para com o próximo, numa urgência evidente de lavarmos a nossa própria alma de todos os pecados que ao longo do ano o nosso egoísmo animal vai cometendo. Um apôs o outro, contra tudo e contra todos, esculpindo o nosso futuro como se o mundo fosse por direito divino apenas nosso e de mais ninguém. Então promovemos o sorriso puro e dócil das crianças, a principal sofredora da sociedade que construímos, porque se a nós adultos, o futuro nos foi retirado, a elas, na idade da inocência, o futuro está a ser-lhes negado, bloqueado. Então enchemos jornais de sorrisos inocentes, proclamamos a quatro ventos o quanto nos sentimos felizes por vermos crianças felizes, afirmamos aos microfones do mundo que lutamos diariamente por elas, numa hipocrisia sem limites que vem crescendo de ano para ano. Inversamente as organizações religiosas e as da sociedade civil desdobram-se num esforço titânico para dar cobertura, apoio, educação e comida em abrigos de sem tetos e sem futuro, que diariamente vão se multiplicando por esse país, Em Luanda e no interior, provando a velha lógica que contra a regra do desconhecimento e do desprezo continua a sobreviver a exceção da preocupação pelo próximo e pelo futuro.
Esse, infelizmente, é o nosso natal, onde poucos gastam fortunas em brinquedos e farras que não sobrevivem à ressaca do dia 26 e todos os outros, continuam a sonhar que é possível e a agradecer a Jesus o milagre da transformação do pão e do vinho, agarrados a pedaços de brinquedos semi destruídos e jogados por esmola no saco de uma pseudo solidariedade que não engana mais ninguém, a não ser a nós próprios e ao nosso cérebro interesseiro, egoísta e mentiroso. Natal apôs Natal fica cada vez mais evidente que construímos dois mundos, o do desinteresse pelo futuro porque nascemos e crescemos em berços de ouro que apesar de propriedade de todos nós apenas a alguns é dado o direito do usufruto e o da necessidade de mudança alimentado pela nossa própria incapacidade de redistribuir de forma justa. Mergulhados numa cegueira total ignoramos os sinais e julgamo-nos todos poderosos, quando afinal todos nós somos simples mortais, incapazes de controlar o amanhã quando fechamos os olhos definitivamente e deixarmos os nossos impérios frágeis como barro a mercê da justiça das grandes multidões. E aí torna-se tarde para clarificar sinais ou dar o feito por não feito. Aí torna-se tarde para a procura de equilíbrios ou para salvarmos o pouco de bom que conseguimos fazer. Aí torna-se tarde para recuar no tempo e desviar a direcção do túnel. Aí torna-se tarde para que no próximo Natal possamos todos, fechar os olhos e agradecer a Deus ou aos nossos próprios atos, a luz iluminaria do caminho da felicidade coletiva e da justiça social.
Mas hoje terminou o Natal de todos os encontros. Tempo de colocarmos a mão na consciência e começarmos a trabalhar para o próximo, porque de novo, Jesus Cristo, no seu berço de capim da manjedoura lá estará deitado, numa situação material de pobreza total, a espera que a gente o encontre e que através dele encontre a nossa própria consciência e como tal a capacidade que todos temos de confessarmos os nossos pecados e de nos redimirmos. E isso significa que nunca é tarde para mudarmos o rumo dos acontecimentos, nunca é tarde para provarmos que é possível transformar o nosso pequeno sítio numa gigantesca praça de amor e felicidade coletiva, onde todos os dias é Natal.
A poucas horas atrás, a minha filha de seis anos de idade, com a boneca nas mãos, já sem braços e sem pernas, fruto das verdadeiras experiências científicas que a longa noite de Natal provoca na curiosidade das crianças, perguntou-me triste se hoje os adultos iriam tornar a encher a árvore de Nata de brinquedos. Respondi-lhe que não porque o Natal já havia terminado. Olhou para mim de soslaio, deu-me as costas e a meio do terceiro passo soltou a exclamação de que era tão pouco e tão rápido. Sentei-me aterrado e pus-me a pensar como ela tinha razão e como o nosso egocentrismo adulto, movido pela febre da posse e dos bens materiais não nos deixa perceber que afinal os nossos filhos apenas querem que a nossa atenção e o nosso carinho se desdobre ao longo dos 365 dias do ano.

DC

26/12/2014



CRÓNICA DE DC - ANALISTA SOCIAL

A Violência do Poder

Mais alguns episódios de violência caracterizam a relação entre os homens, ou entre estes e o meio, na última semana. Cerca de uma semana depois de abordarmos o tema, a verdade é que a forma como esses episódios têm preenchido as grandes manchetes internacionais, provoca que os nossos pensamentos sobre estabilidade social, desenvolvimento e paz em angola, sejam traídos pela necessidade de exteriorizar algumas preocupações, teimosamente presentes nas nossas abordagens diárias sobre a vida e o futuro, à mesa do jantar, ou ao no final da tarde na ilha de luanda, por entre o calor do por do sol e o olhar de esguelha, teimoso, nos cada vez mais pequenos pedaços de pano que cobrem o corpo dos habitués das nossas praias.

Enquanto o país da democracia e das oportunidades se vê a braços com uma complicada convulsão social de origem racial, porque me parece que os policiais preferem ver armas verdadeiras com brancos do que pistolas de brinquedo com negros, ainda que adolescentes, dois dos nossos principais países de referência – o Portugal e Brasil, vêm-se mergulhados em verdadeiras crises de violência moral, fruto do fenómeno alta corrupção, que cada vez mais se torna um problema de escala mundial e que apenas não poisa na nossa terra, porque, do ponto de vista histórico e científico, ele foi transformado em acumulação moderna de capital, porque a primitiva, essa, já passou a história nos tempos da revolução industrial. Enquanto a violência racial no primeiro mostra que o País que conseguiu eleger o seu primeiro presidente negro não foi capaz, na verdade, de sarar as profundas feridas abertas por alguns séculos de escravatura, nos outros, a violência moral, independentemente das razões políticas que giram a volta da verdade ou não do que vamos ouvindo, prova, mais do que nunca, que governação e honestidade, independentemente dos pontos cardeais, são facetas completamente antagónicas da estrutura mental do ser humano, incapazes de uma convivência saudável.

Se a nível das relações sociais entre governos e cidadãos a situação se torna cada vez mais complicada, a natureza, também ela começa a cansar-se de ser a receptora principal dos dejetos gerados pela industrialização e pelo desenvolvimento. Sufocada e revoltada faz a terra cuspir fogo como nunca, engole-nos como formigas em crateras imensas resultantes do tremor imposto pelo roçar malicioso das placas tectónicas, altera e brinca com as estações do ano, joga em cima de nós ondas gigantescas, terrivelmente destruidoras como se pretendesse lavar de vez todos os nossos pecados, aquece os polos e derrete o gelo, subindo perigosamente o nível de água nos oceanos. Em silêncio e conformados ouvimos que as grandes potências brigam para cederem ao desenvolvimento sustentável, agarrados apenas ao presente, fazendo o futuro das novas gerações estarem dependentes de compromissos políticos e interesses financeiros, factores que todos sabemos resumirem-se em última instância ao ser-se mais rico ou mais pobre, ao ter-se mais ou menos poder, a capacidade de se impor a lei, ainda que bastante subjetiva, do mais forte.

E começamos a aprender desde bastante cedo. Aos seis anos vamos para a escola e começamos a aprender a somar e subtrair para que mais tarde possamos aprender os altamente complexos modelos económico-matemáticos que bem lá no fundo se resumem à simples fórmula de que capital mais ou menos trabalho é igual a lucro, aos 14 começamos a aprender as dificuldades dos relacionamentos interpessoais quando, entre a sala de aula e o por do sol trocamos o primeiro beijo, aos 18 vestimos a farda e aprendemos na guerra a filosofia do poder do mais forte, aos 25 somos jogados para o interior da engrenagem e alguns anos depois, exaustos e perdidos, sem fé e sem rumo, inúmeras vezes sós e vazios, transformamo-nos em verdadeiros autómatos sociais, escravos do presente e da busca da sobrevivência material, sem capacidade de reagir e em silêncio, aceitamos a nossa própria resignação, a resignação ao silêncio, a resignação, à incapacidade de reagirmos ao socialmente injusto. E quando a nossa capacidade de sofrimento atinge o limite, quando a nossa intolerância deixa ela própria de tolerar o nosso silêncio, procuramos alternativas muitas vezes em padrões de comportamento sustentados por organizações que misturam política, religião e violência levada ao extremo. A verdade é que não me parece haver regras clássicas para a reviravolta política ou revoluções sociais, para além daquelas que a pseudo-democracia ocidental nos aponta. Ou o que a revolução marxista nos ensinou, também ela própria sucumbida perante a falta gritante de moral social dos seus progenitores. E assim mais a esquerda ou mais à direita, mais verde ou mais socializante, a verdade é que o homem cultiva cada vez mais a semente da sua própria destruição, regando-a diariamente com o egoísmo da riqueza, alimentando-a com a sede de poder, fortalecendo-a com a total falta de respeito para com o futuro.

A violência das manifestações que na última semana se têm reproduzido um pouco por inúmeras grandes cidades por este mundo fora, mostra, em meu entender, a forma como o cidadão comum pretende romper a barreira do silêncio, enquanto os estados, com os recursos ao seu dispor, pretendem apenas manter e eternizar o status-quo, que naturalmente serve os interesses das classes políticas dominantes e dos grandes interesses financeiros internacionais, verdadeiros aliados de uma só mão.

Mas a razão do silêncio é forte, é justa e encerra nela a verdadeira dimensão de um mundo melhor.

DC

27/11/014

Crónica de DC para Amanha é Outro dia 21-11-14

O PODER DA VIOLÊNCIA

A violência neste mundo globalizado atinge hoje, mais do que nunca, proporções gigantescas e socialmente alarmantes. Não que seja uma novidade para nós porque o desenvolvimento da humanidade tem-se feito historicamente com suporte na violência, através da resolução de conflitos entre antagónicos e consequentemente da reposição do equilíbrio do sistema através da destruição de uma das partes em conflito. Não precisamos de mergulhar nos meandros da história ou das filosofias antigas, hoje designadas como materialistas ou percursoras do materialismo, mas assentes no seu tempo em princípios espirituais e explicações teológicas, para verificar o quanto essa violência diária mexe com a nossa estrutura de vida, com as nossas opções de continuidade, com a nossa filosofia do comportamento e com o nosso futuro. Porque não sabemos para onde vamos, porque permanentemente depositamos toda a nossa esperança em potenciais salvadores, que se revelam no futuro, quer seja pela ânsia de deixarem o nome gravado nos anais da história, quer pelo fracasso político evidente na sua subjugação aos interesses da alta finança internacional. E aqui, na identificação da causa principal, não há que vacilar ou interrogar se caminhamos efetivamente para um bíblico final dos tempos modernos, ou se apenas somos mais uma vez marionetes a dançar a música do capital, já identificado por Karl Marx como o verdadeiro vampiro "porque é trabalho morto que, tal como o vampiro, vive apenas para sugar o trabalho vivo, e quanto mais vive, mais trabalho suga". Entre uma e outra opção a verdade é que se sentimos diariamente arrepios na pele pelo grau e intensidade da violência em todas as suas vertentes, ficando no ar, a pequena dúvida de, se o grau é assim tão elevado ou apenas estamos a consumir o que os grandes pretendem, preparando-se eles, por entre as verdades da mentira e as nossas incertezas, para mais guerras, visando o controlo absoluto do mundo, da política e das finanças internacionais.

Em Angola aprendemos a aprender depressa, com a ânsia de crescermos rápido. A nossa riqueza potencial, ainda que grande parte dela enterrada morta no desconhecimento do subsolo, dá-nos asas para sonhar estar entre os maiores, os melhores, os mais poderosos, os donos do mundo. Preparamo-nos para tal, temos sonhos de hegemonia política e como tal desenhamos a petróleo o horizonte dos nossos ideais, enquanto mesmo ao nosso lado, os famintos reclamam entre a fome e o último suspiro, acumulando-se como desgraçados cujo único crime foi terem nascido. Na verdade isso pouco importa porque precisamos de aprender, precisamos de acompanhar o ritmo dos tempos e como tal precisamos de realizar, de fazer acontecer. Como bons alunos, na sala de aula sentamo-nos a frente porque á importante o reconhecimento do professor, e como tal somos rápidos a aprender, a interiorizar. E como reconhecimento, ensinam-nos o abc da violência, não na sua versão mais gigantesca que é a do domínio do mundo, porque essa pertence a um club muito restrito ao qual nos é vedada a entrada, mas aquela que caracteriza o 3º mundo e que é importante para manter governos e políticos ocupados, verdadeiras manobras de diversão para entravar o crescimento dos eternos pobres. E assim como bons consumistas, adoptamos a violência da desigualdade social, da fome, da pobreza, da anti-democracia e da desigual distribuição de riqueza como nossos verdadeiros filhos….e estes fizeram-se acompanhar dos seus próprios filhos, hoje nossos netos legítimos, a violência diária e degradante dos assaltos a mão armada, da agressão física, do ajuste de contas, da falta de moralidade política e social a todos os níveis, do desrespeito pela vida humana, da corrupção. E como violência gera violência, assim como poder ilimitado no tempo e no espaço, gera poder em absoluto, a verdade é que zonzos andamos todos, entre a poder da violência e a violência da poder, a procura de razões para justificarmos as nossas desgraças, o quase final de tantos sonhos, a esperança que ficou, perdida ou enterrada, no início da caminhada, pela nossa incapacidade de destrinçar entre os objetivos do futuro e a realidade dos homens que faziam o presente.

Um amigo, irmão de verdade de muitas guerras e caminhadas de todo o tipo por esse mundo cada vez menos acolhedor, a quem aliás aproveito o espaço e as poucas palavras para me inclinar pelo seu sábio meio século de vida, disse-me a dias que temos a cultura da violência, temos a cultura do tiro, porque assim aprendemos ao longo da nossa geração, onde o poder e as diferenças políticas sempre foram resolvidas com recurso a decisões extremas. Com tristeza e talvez pouca esperança no futuro que sempre sonhamos para as gerações que nos seguem, continuo a pensar que não. Apesar da verdade das suas palavras sobre os ensinamentos do poder, continuo a pensar que apenas vivemos tempos loucos e que a desorganização política e social que afeta o mundo pelo negativo, no seu todo, já atingiu o seu ponto mais alto, o momento dialético exato onde a suas próprias contradições irão gerar uma nova qualidade.

DC 
20/11/014 
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