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Crónica de DC para Amanha é Outro dia 21-11-14

O PODER DA VIOLÊNCIA

A violência neste mundo globalizado atinge hoje, mais do que nunca, proporções gigantescas e socialmente alarmantes. Não que seja uma novidade para nós porque o desenvolvimento da humanidade tem-se feito historicamente com suporte na violência, através da resolução de conflitos entre antagónicos e consequentemente da reposição do equilíbrio do sistema através da destruição de uma das partes em conflito. Não precisamos de mergulhar nos meandros da história ou das filosofias antigas, hoje designadas como materialistas ou percursoras do materialismo, mas assentes no seu tempo em princípios espirituais e explicações teológicas, para verificar o quanto essa violência diária mexe com a nossa estrutura de vida, com as nossas opções de continuidade, com a nossa filosofia do comportamento e com o nosso futuro. Porque não sabemos para onde vamos, porque permanentemente depositamos toda a nossa esperança em potenciais salvadores, que se revelam no futuro, quer seja pela ânsia de deixarem o nome gravado nos anais da história, quer pelo fracasso político evidente na sua subjugação aos interesses da alta finança internacional. E aqui, na identificação da causa principal, não há que vacilar ou interrogar se caminhamos efetivamente para um bíblico final dos tempos modernos, ou se apenas somos mais uma vez marionetes a dançar a música do capital, já identificado por Karl Marx como o verdadeiro vampiro "porque é trabalho morto que, tal como o vampiro, vive apenas para sugar o trabalho vivo, e quanto mais vive, mais trabalho suga". Entre uma e outra opção a verdade é que se sentimos diariamente arrepios na pele pelo grau e intensidade da violência em todas as suas vertentes, ficando no ar, a pequena dúvida de, se o grau é assim tão elevado ou apenas estamos a consumir o que os grandes pretendem, preparando-se eles, por entre as verdades da mentira e as nossas incertezas, para mais guerras, visando o controlo absoluto do mundo, da política e das finanças internacionais.

Em Angola aprendemos a aprender depressa, com a ânsia de crescermos rápido. A nossa riqueza potencial, ainda que grande parte dela enterrada morta no desconhecimento do subsolo, dá-nos asas para sonhar estar entre os maiores, os melhores, os mais poderosos, os donos do mundo. Preparamo-nos para tal, temos sonhos de hegemonia política e como tal desenhamos a petróleo o horizonte dos nossos ideais, enquanto mesmo ao nosso lado, os famintos reclamam entre a fome e o último suspiro, acumulando-se como desgraçados cujo único crime foi terem nascido. Na verdade isso pouco importa porque precisamos de aprender, precisamos de acompanhar o ritmo dos tempos e como tal precisamos de realizar, de fazer acontecer. Como bons alunos, na sala de aula sentamo-nos a frente porque á importante o reconhecimento do professor, e como tal somos rápidos a aprender, a interiorizar. E como reconhecimento, ensinam-nos o abc da violência, não na sua versão mais gigantesca que é a do domínio do mundo, porque essa pertence a um club muito restrito ao qual nos é vedada a entrada, mas aquela que caracteriza o 3º mundo e que é importante para manter governos e políticos ocupados, verdadeiras manobras de diversão para entravar o crescimento dos eternos pobres. E assim como bons consumistas, adoptamos a violência da desigualdade social, da fome, da pobreza, da anti-democracia e da desigual distribuição de riqueza como nossos verdadeiros filhos….e estes fizeram-se acompanhar dos seus próprios filhos, hoje nossos netos legítimos, a violência diária e degradante dos assaltos a mão armada, da agressão física, do ajuste de contas, da falta de moralidade política e social a todos os níveis, do desrespeito pela vida humana, da corrupção. E como violência gera violência, assim como poder ilimitado no tempo e no espaço, gera poder em absoluto, a verdade é que zonzos andamos todos, entre a poder da violência e a violência da poder, a procura de razões para justificarmos as nossas desgraças, o quase final de tantos sonhos, a esperança que ficou, perdida ou enterrada, no início da caminhada, pela nossa incapacidade de destrinçar entre os objetivos do futuro e a realidade dos homens que faziam o presente.

Um amigo, irmão de verdade de muitas guerras e caminhadas de todo o tipo por esse mundo cada vez menos acolhedor, a quem aliás aproveito o espaço e as poucas palavras para me inclinar pelo seu sábio meio século de vida, disse-me a dias que temos a cultura da violência, temos a cultura do tiro, porque assim aprendemos ao longo da nossa geração, onde o poder e as diferenças políticas sempre foram resolvidas com recurso a decisões extremas. Com tristeza e talvez pouca esperança no futuro que sempre sonhamos para as gerações que nos seguem, continuo a pensar que não. Apesar da verdade das suas palavras sobre os ensinamentos do poder, continuo a pensar que apenas vivemos tempos loucos e que a desorganização política e social que afeta o mundo pelo negativo, no seu todo, já atingiu o seu ponto mais alto, o momento dialético exato onde a suas próprias contradições irão gerar uma nova qualidade.

DC 
20/11/014 

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